Volta Redonda, no Sul Fluminense, é conhecida como a “cidade do aço” por ser sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Mas existe uma Volta Redonda bem mais antiga, uma cidade verde que veio antes da cidade industrial.
A criação da maior empresa de aço do Brasil acabou dominando o horizonte do espaço urbano e deixando as joias ambientais em segundo plano, mas elas resistem ao tempo cheia de beleza. E algumas têm, inclusive, conexão com a CSN. Para entender esse aparente paradoxo é preciso voltar ao tempo.
Na década de 1940, Volta Redonda, a 125 quilômetros da cidade do Rio, era um pequeno distrito da vizinha Barra Mansa. Foi quando o presidente Getúlio Vargas (1882-1954) anunciou a criação da usina. Ela entrou em funcionamento em 1946.
“Junto com o projeto de fundação da empresa, Vargas mandou planejar uma cidade em volta”, explica a diretora de Turismo Débora Cândido, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, A área era uma imensidão de terras – 211 hectares, equivalente a quase metade do bairro carioca de Copacabana -, com várias fazendas.
Parque Natural Municipal
A principal delas, Santa Cecília do Ingá, é um Parque Natural Municipal aberto a visitantes. Foi transformada em Área de Proteção Ambiental (APA) na década de 1990 e, como tal, oferece todas as atividades características de parques similares – como pista para caminhadas, bicicleta e tracking. “Tem gente que realiza cerimônias de batismo ou casamento, até”, conta Débora.
Já a Fazenda Santa Cecília, tombada pela importância histórica para a cidade, infelizmente não é aberta a visitação. O espaço é propriedade da CSN, e produz mudas de espécies arbóreas para reflorestamento, contenção de encostas e outros projetos ambientais. Com 211 hectares, a Fazenda é a maior área verde remanescente de Mata Atlântica de Volta Redonda.
Embora seja uma jóia, o Parque Santa Cecíçia do Ingá não é o lugar mais visitado por volta-redondenses e turistas. O mais fotografado, com certeza, é cenário da própria CSN, que pode ser vista de vários pontos do município, hoje com quase 280 mil habitantes. Mas o lugar mais procurado por turistas e moradores para o lazer é o Zoológico Municipal, também com entrada gratuita.
Imersão no viveiro de aves
Alguns animais são soltos em períodos diferentes na área de conservação longe do público, seguindo novos padrões de cuidado com bichos de zoo, que também tem brinquedos infantis, área para piquenique e feira de artesanato.
“São cerca de 5 mil visitantes por semana”, diz a diretora de Turismo. Uma das atrações mais disputadas é a “imersão de contato no viveiro de aves”. Débora explica que isso só é permitido com a presença de guias, e garante: “Entrar em um viveiro com os pássaros voando ‘livremente’ é uma experiência incrível.”
O MPF contra a poluição
É óbvio que uma companhia da dimensão da CSN – a principal fonte do aço brasileiro – fortalece muito a economia municipal, através de geração de empregos e pagamento de impostos. Por outro lado, o Ministério Público Federal teve que entrar com pedido na 1º Vara Cívil de Volta Redonda para exigir a redução de emissão de gases poluentes.
Outra faceta desconhecida do município são as obras de arte espalhadas, como a escultura O Arigó, de Bruno Giorgi, no bairro Vila Santa Cecília, e o monumento Memorial IX de Novembro, de Oscar Niemeyer. Entre outras obras pela cidade afora estão H. Leão Veloso, Celso dal Belo e Rogero Masson.
Preciosidade de preservação histórica, o Cine 9 de Abril (data de criação da CSN) é um belo exemplar de arquitetura modernista, com mais de mil assentos. E a Igreja Santa Cecília, de 1940, também resistiu bravamente à ação do tempo com suas relíquias sacras.
A evolução do povoado de Volta Redonda
O professor de história volta-redondense Waldyr Amaral Bedê escreveu o livro Volta Redonda na era de Getúlio Vargas, no qual relata a mudança de povoado para cidade competitiva desde a construção da siderúrgica.
“A minha geração veio depois e colheu os louros do que nossos pais plantaram”, diz Waldyr Leonel Bedê, filho do escritor e também professor. Ele se refere ao crescimento educacional, com faculdades, e cultural. J[a os empregos diretos na companhia se reduziram muito desde a privatização, em 1993. “De 50 mil funcionários caiu para 10 mil, número de hoje.”
Bedê aponta um bucólico monumento, pouco conhecido mas que seria sua dica para um turista visitar: a centenária Chaminé do Engenho de Açúcar, construída em 1903, que também produzia aguardente e outros produtos derivados.
E diz que o capricho da natureza que deu nome ao lugar continua intacto: “Chama Volta Redonda porque o Rio Paraíba do Sul faz, em determinado ponto da cidade, uma curva redondinha, quase fechada.” A bandeira do município relembra essa história.
*Colaborou Carolina Smolentzov
Créditos: DIARIO DO PORTO